Hoje, Dia dos Avós.
Geralmente, não sou nada boa com datas, mas, neste dia, todos os anos, sempre me lembro de fazer uma ligação para aquela que me manteve segura e feliz durante os primeiros anos da minha vida. Hoje também faz um ano desde que deixei minha vida confortável: família, amigos, um trabalho relativamente estável — para então realizar aquilo que um dia acreditei ser um sonho, quando, na verdade, era apenas a vida acontecendo em outro lugar.
Lembro-me de que, talvez, tenha sido com ela, a minha avó, que nasceu em mim a vontade de viajar e explorar o mundo. Usávamos o melhor expresso da cidade para visitar familiares que moravam a mais de 600 quilômetros de distância, apenas pelo prazer de estar na companhia daqueles que eram muito importantes para ela — e que, com o tempo, também se tornaram importantes para mim.
Conviver com seus amigos de infância, ouvir suas histórias adolescentes, caminhar por praças e feiras da sua antiga cidade, visitar o supermercado favorito que resistia ao tempo — com os mesmos corredores, os mesmos cheiros e, às vezes, até os mesmos rostos por trás do balcão. Ou quando pude visitar a casa onde minha mãe cresceu, subir no pé de carambola da infância dela, sentir o cheiro dos pés de pimenta da vizinha Maria José.
Naquela época, eu jamais imaginaria que essas memórias ganhariam tanto espaço dentro de mim. Mas hoje sei: minha avó talvez soubesse. Sabia que seriam importantes. Sabia que me moldariam.
E agora, mesmo longe — neste dia, neste ano —, compreendo algo que sempre esteve ali, em silêncio: nunca fui de pertencer a um só lugar. Carrego em mim o destino daqueles que um dia se tornam os parentes distantes, aqueles que precisam ser visitados.
Quando se deixa o lugar onde se cresceu, o mundo continua, mas pouca gente se lembra de perguntar como você está. Hoje entendo que, para a minha avó, um telefonema não bastava. Era preciso estar junto, nem que fosse por um tempo breve, ao lado de quem a fazia lembrar quem ela era.
E não há gesto mais bonito do que reorganizar a própria vida para viver esse instante com quem realmente importa.
Talvez tenha me levado um ano inteiro para entender que a distância, em silêncio, acende em mim um desejo profundo de estar perto de quem mora na saudade.
E mesmo depois de um ano repleto de descobertas — de dias novos, de rostos novos, de aprender a caminhar sozinha por caminhos desconhecidos —, ainda há histórias esperando por páginas em branco, e destinos pedindo passagem.
Porque, no fundo, sempre haverá um motivo para embarcar de novo, pegar um expresso qualquer e seguir estrada afora, atrás dos abraços que fazem tudo valer a pena.
<3.